Ismael José Vilela
Iniciamos por esses dias o novo ano litúrgico com o Advento, em que nos preparamos para a vinda do Senhor Jesus, seja no Natal, seja no fim dos tempos. Predomina o tema da expectativa, da espera, da esperança. Celebramos o Senhor que já veio, mas que também haverá de vir. O tempo da Igreja se insere entre a primeira e a segunda vinda.

O papa Bento XVI desenvolve uma interessante reflexão sobre a esperança: “…a espera para a vinda do Senhor não significa para o crente uma esperança concreta, não é uma visão do futuro. Poderá ser medo, mas não esperança. Normalmente nem contribui para formar a consciência cristã, dado que temos motivos para acreditar que para nós este acontecimento se coloca num futuro indefinido”.
Depois dessa crítica, ele fala: “Isto (ou seja, o medo em lugar da esperança) traz como consequência, que o cristianismo como fenômeno comunitário apareça essencialmente orientado para o passado, e é no passado que o fundamento das suas forças motivadoras é colocado”.
Por último ele conclui: “A falta duma comunidade orientada para a esperança histórica (que olha para o futuro) teve como consequência que os cristãos se agarrassem a esperanças pós-cristãs: se agarrassem à fé no progresso nas suas múltiplas variantes, ou às utopias de um mundo novo a construir”.
Para preencher essa lacuna, o papa fala de uma “vinda intermediária” do Senhor, manifestada de duas maneiras. A primeira: “Cristo nasce sempre de novo nas nossas almas; estamos perante uma permanente vinda espiritual de Cristo”. O nascimento de Deus no coração, o que é importante e certo, mas não suficiente, segundo o papa. A segunda: “Quando consideramos a história, vemos que, ao lado das catástrofes sempre presentes, encontramos sinais evidentes desta ‘vinda intermediária’ do Senhor, que ao mesmo tempo apontam caminhos e condições para o nascimento de Deus no coração do homem”. Ou seja: em cada momento de crise na história da Igreja e da humanidade, há também uma “vinda intermediária” do Senhor, que permite o nascimento de Deus no coração de cada um de nós. Nossa história individual confirma essa “vinda intermediária” exatamente no momento de crise e de sofrimento.
Com essa reflexão quero sugerir que aproveitemos o tempo do Advento para tentarmos descobrir a presença do Senhor em meio às diversas crises que se abatem sobre nós hoje. Essa descoberta haverá de sustentar nossa fé no Senhor que já veio, e nossa esperança no Senhor que virá. Afinal Ele garantiu que estaria conosco até o fim dos tempos, principalmente nos momentos críticos.
(BENTO XVI. Quem nos ajuda a viver? De Deus e do Homem. Editora Franciscana. Braga. Páginas 12 e seguintes)