Amor requer identificação

Dr. Ismael José Vilela

Na última semana santa, antes de participar da cerimônia religiosa, no interior de Minas, fiz a seguinte pergunta a duas pessoas: “Estou indo para a igreja, o que vocês    queriam mandar dizer ao Senhor?” Uma delas disse: “fala pra Ele que estou esperando acontecer o que combinamos”. A outra respondeu: “fala pra Ele que não desisti e vou continuar pedindo”.

Tanto a minha pergunta quanto as respostas indicam o tipo de relação que desenvolvemos com Deus: temos algumas necessidades e esperamos que Ele as   preencha.

Durante a celebração  fui me lembrando de um pensamento que tinha desde pequeno e que, sem prestar muita atenção, ainda tenho até hoje: Jesus, sendo Deus, não precisava passar por tudo que passou na paixão e morte. Se o passou, foi meio que de mentira, só para nos ensinar, para servir de exemplo ou para nos fazer compreender a gravidade do nosso pecado. A paixão e a morte de Cristo eram quase como um “faz de conta”, no meu entender.

Ao ouvir a narração da paixão feita por São João, impressionou-me o vai-e-vem de Jesus nas mãos dos juízes, sacerdotes e do povo. A negação de Pedro, a traição de Judas, os interrogatórios. A umas perguntas Ele respondia, a outras preferia ficar calado. Brotou no meu coração a pergunta: “tinha que ser assim, desse jeito? Não bastaria a morte natural? Não seria ela suficiente para nos remir, já que era a morte do homem que era também Deus?”

Que resposta Jesus poderia dar àquelas duas pessoas que interroguei, massacrado daquele jeito? O que Jesus torturado, condenado, crucificado e executado teria para dizer para elas e para mim? “Eu, Deus e homem, entrei na história de vocês, história que é de sofrimento. Fiz do sofrimento de vocês o meu sofrimento. O sofrimento de vocês é o meu sofrimento”.

A partir dai fui descobrindo que não haveria outra forma de Deus entrar na nossa história, a não ser pelo sofrimento. Se não fosse assim, seria como aquele que resolve nossos problemas, que traz uma solução, mas sem se identificar conosco. E sem identificação não há amor. Descubro também que a paixão e morte do Senhor Jesus foram absolutamente verdadeiras, e não tiveram a finalidade nem de nos ensinar nem de nos mostrar a nossa condição de pecadores. Deus entrou de verdade no nosso sofrimento e, no nosso sofrimento, nós o podemos encontrar.

Essa é uma resposta que nos surpreende, porque nos faz compreender que o amor de Deus se revela não quando Ele nos livra do sofrimento, mas sim quando Ele faz o nosso sofrimento ser também o dEle. A minha dor passa a ser a dor dEle. A minha sede passa a ser a sede dEle. A minha morte, a morte dEle. A minha pequena paixão passa a ser a paixão dEle. Não preciso pedir a Ele que me livre de minhas dores. Basta pedir que me ajude a entender que a minha dor é também a dor dEle. Essa unificação acontece, ou pode acontecer, em cada Eucaristia. Até nisso Ele pensou, quando nos deixou um memorial de sua paixão.

Um comentário sobre “Amor requer identificação

  1. Belas e sábias palavras que me leve a parar por uns instantes e agradecer, mais uma vez, a esse Jesus ressuscitado que se fez presente e participou comigo do meu sofrimento, mas me livrou dele; a esse Jesus que colocou na minha vida a família abençoada e maravilhosa que tenho e permanecem sempre comigo; a esse Jesus ressuscitado que orientou minhas escolhas e proporcionou-me conhecer o Icapp e pessoas iluminadas que eu caminho hoje com elas. Agradecer a esse Jesus ressuscitado por me permitir ressuscitar sempre com Ele. Obrigada Jesus.

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