No próximo dia 3 de setembro, o psicólogo do ICaPP, Darlen Vaz, será ordenado diácono permanente na diocese de Rio Grande (RS). Conversamos com ele sobre essa nova missão e vocação assumida na Igreja. Confira!

– Darlen, como despertou em você o chamado para ser diácono na Igreja?

Bom, minha conversão acontece aos 20 anos quando, em um Curso de Emáus, sou surpreendido por Deus e faço minha 1° Comunhão. De lá para cá, tornei-me muito ativo na Igreja e de modo mais intenso na Renovação Carismática Católica (RCC). Nesse caminho, muitas atividades e coordenações me ocuparam na vida da Igreja e sempre um amor crescente pelos ministros ordenados e pelo anúncio da Boa Nova me dirigiram.

Aos 24 anos, já exercia o ministério extraordinário da Comunhão Eucarística e isto me possibilitou estar próximo do altar, onde meu amor à Eucaristia foi se consolidando e a presença real de Jesus ocupando o centro de minha espiritualidade.

Em meados do ano 2002, surge a primeira escola diaconal de nossa província eclesiástica. Naquele período, sacerdotes amigos até me influenciaram a começar, porém naquele momento histórico da minha vida não vislumbrava este ministério, em vista de estar tendo uma vida missionária intensa que se estendeu até 2016.

Com a chegada do nosso 3° Bispo, Dom Ricardo Hoerps, um sentimento de diocesaneidade foi me ocupando e me fazendo estar mais em minha Igreja particular. Nesse contexto, a proximidade com o novo Bispo foi me oportunizando novas missões ad intra.

Na sua primeira Assembleia de Pastoral no ano de 2016, encerramento do Ano Santo da Misericórdia, Dom Ricardo me surpreende, ao final da Assembleia que nos preparava para uma procissão que iríamos fazer até o santuário de Fátima, onde seria fechada a porta Santa. Dom Ricardo toca meu ombro, eu me viro para ver, e ele de forma alegre me pergunta se eu não irei me vestir? Respondo a ele que não havia entendido a pergunta! O Bispo, de forma incisiva e forte, me diz: “Te vejo como Diácono da Igreja”. Naquele momento meu ser tremeu e, quase que automático, a resposta que saiu da minha boca foi: “Dom Ricardo, se é um desejo de Deus e está em seu coração: Eis me aqui!”.  O Bispo sorriu e me disse: “era essa a resposta que queria ouvir de você!”.

Do dia 20 de novembro de 2016 até aqui, foi se construindo o entendimento dessa vocação que sempre existiu no coração de Deus e que estava latente dentro de mim. Em 2019, começamos nossa escola diaconal que terminou em 2022. E aqui chegamos para responder este chamado.

Com o Lema de Ordenação: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5), confio essa vocação e missão a nossa querida Mãe, Maria!

– Pode nos contar, brevemente, qual o serviço que o diácono permanente presta à Igreja?

O Diácono é um servidor do altar, da Palavra e da caridade. No altar, ele tem seu múnus nas celebrações que lhe são próprias, como a proclamação do Evangelho e outras mais. Servidor da Palavra, pois deve ser um anunciador da Boa Notícia no exercício do seu ministério e da vida.

Homem da caridade, pois o surgimento da diaconia na Igreja remonta a Igreja primitiva e as necessidades temporais que se percebia, como o auxílio às viúvas. Portanto, a primeira grande missão do diácono é estar junto e promover a dignidade daqueles que estão à margem da sociedade, sofrendo a falta do básico para existirem.

– Quais as exigências e como é a formação para ser um diácono permanente?

Na Igreja, a Congregação para a Educação Católica e a Congregação para o Clero orientam quais são as normas fundamentais para a formação dos diáconos permanentes tais como:

-Ter idade mínima de 35 anos, para casados e solteiros. Para os casados, observar também um tempo mínimo de 5 anos de matrimônio.

-Iniciação cristã completa: Batismo, Crisma e Eucaristia. Para os casados, é indispensável o matrimônio religioso, realizado de forma canônica.

-Experiência mínima de cinco anos em trabalho pastoral ou social (voluntariado em organizações não governamentais, por exemplo).

-Domicílio canônico na diocese.

-Condições de saúde física e psíquica compatíveis com as atividades previstas.

-Ensino médio completo (segundo grau).

– Como sua família, esposa e filhos, acolheram essa vocação?

Bem como disse acima, sempre tive uma vida missionária intensa, talvez para eles foi menos surpreendente do que para mim, pela forma que eles viam minha atuação na Igreja. No diaconato permanente, a esposa tem seu papel primordial. Já me dizia Dom João Braz de Aviz, em sua última estada conosco no ICaPP, ao compartilhar com ele o convite do meu bispo: “No Diaconato Permanente, a vocação é da esposa”. De fato, tenho percebido isso pela forma que minha esposa tem atuado principalmente na Pastoral da Caridade de nossa Paróquia. É uma grande graça para toda nossa família.

– Como psicólogo e membro do ICaPP, o que a resposta a resposta a essa vocação agrega ao seu trabalho?

No ICaPP, nós temos a tarefa sublime de unir a fé a ciência. Onde, para muitos, parece antagônico, para nós, é o cotidiano de nossa atuação clínica, sem fazer necessariamente apologia ao que cremos, mas como vemos nosso cliente (irmão) e como o acolhemos em suas dores.

Nesse sentido, o ministério ordenado faz como que uma fusão existencial do meu ser. Há uma mudança ontológica na minha existência e isso possibilita viver a dimensão profissional e missionária de uma forma íntegra e coesa, mas sem necessariamente haver sobreposição de uma sobre a outra. A maturidade da fé e o conhecimento teórico se associam com a finalidade de promover a saúde psíquica, assim cumprimos nossa missão de sermos agendes da saúde, a partir de uma antropologia cristã do ser.

– Como está o seu coração próximo a receber a ordenação diaconal?

Sinto-me como que um vulcão de emoções! Às vezes explosões de alegria, às vezes explosões de temor, às vezes sentimentos de indignidade, às vezes lágrimas me escorem pelo rosto ao pensar no que me tornarei. No entanto, permeando toda esta eclosão emocional, está a gratidão por ser escolhido a participar desse mistério e ministério.

Minha vida ampliando seu sentido pela nova missão, aqui talvez entendo melhor o chamado do profeta Jeremias quando diz: “Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7).