Refletir a vida a partir da morte

*Marluze Inês de Almeida Tito

Vivenciar o dia dos mortos é, além de celebrarmos suas memórias rezando por eles e visitando seus túmulos, fazer uma reflexão existencial.

Foto: Freepik.com

Falar da morte, ainda que seja a única certeza da vida, é falar de algo desconhecido por ser um ato solitário. Conhecemos a morte a partir das perdas de entes queridos. A aproximação do dia de finados nos faz, além de elevarmos orações em prol das almas, refletir sobre o sentido da existência e tomar consciência de nossa própria mortalidade.

Segundo Dra. Ana Claudia Q. Arantes, “para boa parte de nós, a morte é provavelmente o maior de todos os medos. Mas, e se a grande questão envolvendo a morte for, na verdade, a vida? Estamos aproveitando nossos dias ou vamos chegar ao fim dessa jornada cheios de arrependimentos sobre coisas que fizemos – ou, pior, que deixamos de fazer?”

A morte nos propicia um olhar claro sobre como vivemos, como utilizamos nosso tempo.

Para Viktor Frankl (1990), a morte se revela plena de sentido na medida em que funda a singularidade da nossa existência e com ela o ser responsável; da mesma forma evidencia-se a imperfeição do homem que necessita de sentido, na medida em que esse sentido se apresenta como algo que constitui a originalidade da sua essência. O fato de que somos mortais, que nossa vida é finita, que nosso tempo é limitado e nossas possibilidades limitadas, esse fato é que principalmente faz com que pareça pleno de sentido empreender algo, aproveitar uma oportunidade, realizar, satisfazer, aproveitar e preencher o tempo. A morte significa o chamado para tal reflexão. Assim, a morte constitui o fundo sobre o qual o nosso ser é exatamente um ser responsável.

A consciência da morte nos revela a importância de não postergar o “Amar” na sua plenitude. Afinal, aquilo que irradiamos no mundo será exatamente o que permanecerá de nós quando já tivermos partido.

Diante do sofrimento e das perdas vemos possibilidade de mudarmos, aprendendo com a dificuldade de transcende-lo, e com certeza da finitude da existência refletimos sobre o sentido último da vida e ainda, como postula Frankl, que o ser humano deve estar consciente de que sua missão é viver uma vida plena de sentido, e dar respostas transcendentes a cada situação. Pode ser despojado de tudo, menos da liberdade de decidir que atitude tomar diante das circunstâncias. E pode dizer sim a vida, independente de tudo. O valor da vida até o último momento da existência enquanto orientada para um sentido confirma que “a morte é um dia que vale a pena viver. ”


Referências:

Frankl, Viktor, E. (1990), Logoterapia y análisis existencial, Tradução J. A. P. Diez, R. Wenzel & I. Arias, Trad.). Barcelona: Herder, 1990.     

Arantes, A.C. Quintana, (2016), A morte é um dia que vale a pena viver, editado pela Casa da Palavra Produção Editorial Ltda. do Rio de Janeiro.


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