*Dr. Ismael José Vilela

Vez por outra escuto o seguinte comentário: “Avó, avô, são para deseducar os netos”. Confesso que não me agrada essa expressão, exatamente porque ela não diz a verdade. A relação dos avós com os netos é, ou pode ser, genuinamente amorosa. Além do mais, se uma avó, um avô deseduca, está abrindo mão dessa relação de amor autêntico para transformá-la em autoafirmação egocêntrica.
O vínculo entre avós e netos é marcado, a meu ver, por três características: é gratuito, é reparador e é urgente. Todo amor é, por si mesmo, gratuito; mas dos avós para com os netos o é de modo especial: não há expectativa de resultado; além disso, ama-se porque se quer amar; não há uma obrigação ou imposição.
É reparador, exatamente porque o amor materno e paterno tem um quê de obrigatoriedade, de eficácia, quase de apresentação de resultado. A vida nos dá, a nós avós, a chance de reparar os erros decorrentes do empenho em acertar que podemos ter cometido com nossos filhos. Nesse sentido, ser avó, ser avô é uma grande chance que a vida nos dá de podermos retribuir a ela, vida, a alegria de ve-la prolongada em nossos netos.
Nosso vínculo com os netos é marcado pela urgência: não podemos deixar para depois a expressão do amor para com eles. Sabemos que a vida passa. Cada um de nós, avós, temos no coração uma quota de amor, que foi derramado em nossos corações, para ser repartida com os netos. Não podemos reter conosco o amor que se destina a eles. Nesse sentido o amor da avó, do avô, é insubstituivel e inadiável.
O amor no mundo conta conosco, avós, enquanto podemos completar o que faltou aos nossos filhos, amando os filhos deles. Além do mais, podemos dar aos netos o que os pais deles podem ter omitido. Pode-se improvisar um pai, uma mãe; os avós nunca serão improvisados. A vida nos capacita a nós, avós, para o amor.